LOC: Levantamento do Serasa mostrou que 65 milhões de brasileiros tinham dívidas em fevereiro. O valor médio do endividamento é de R$ 4.000,00. Para tentar estimular a reorganização das finanças, a Caixa Econômica Federal agora realiza empréstimos para pessoas ou microempreendedores individuais que estão com o nome sujo.
Para pessoa física, o valor varia entre R$ 300,00 e R$ 1.000,00. Para MEI, a operação pode chegar a R$ 3.000,00. Mas a administradora e especialista em Finanças Pessoais Catharina Sacerdote alerta que outras taxas incidem sobre as operações de crédito, o que, ao final, pode elevar o valor do empréstimo. A contratação é feita pelo aplicativo Caixa Tem e os valores podem demorar até sete dias para serem liberados.
Confira a entrevista.
Catarina, finanças pessoais é um tema muito importante quando se fala em crédito para negativados, tema que ganhou destaque com o anúncio dos empréstimos por meio do Caixa Tem. É a primeira vez que uma instituição financeira oficial realiza esse tipo de operação?
TEC//SONORA: Catharina Sacerdote, especialista em Finanças Pessoais
“Não é a primeira vez que uma instituição financeira oficial realiza crédito para negativados. Atualmente há em torno de 800 instituições - entre instituições financeiras, fintechs, bancos. Algumas delas já ofereciam créditos para negativados e tem como o seu mote de vendas créditos para negativados. O que é a primeira vez na história? É a Caixa, que é um banco muito grande, muito conhecido, abrir mão de alguns critérios na sua análise de crédito para oferecer créditos inclusive para quem está negativado. O que a gente enxerga é que 2021 foi um ano muito duro para as pessoas. A inflação aumentou demais, o poder de compra das pessoas não acompanhou, então o preço das coisas, de tudo que a gente usa para viver subiu demais e os nossos rendimentos - seja nosso salário, faturamento - não acompanhou esse aumento tão grande. E acabou que as pessoas precisaram utilizar créditos ou outras formas de empréstimo para necessidades básicas.”
LOC: Os juros que a Caixa tem oferecido são a partir de 1,95% por mês. Do ponto de vista da finança pessoal, qual o impacto desses juros no orçamento?
TEC//SONORA: Catharina Sacerdote, especialista em Finanças Pessoais
“Primeiro, que a gente tem que lembrar que quando a gente olha lá o edital, as regras desse empréstimo, A Caixa fala que esses juros podem variar entre 1,95 até 3% ao mês. Então, tentando simplificar: lembrando que esses juros são só do empréstimo. Junto com esse empréstimo, em geral, tem outras despesas: tem, por exemplo, o IOF - que é um imposto sobre operações financeiras -, pode ter uma taxa de cadastro, pode ter um seguro. Porque a instituição financeira não vai ficar completamente descoberta. Ela quer receber esse dinheiro de volta.”
LOC: O que é importante avaliar?
TEC//SONORA: Catharina Sacerdote, especialista em Finanças Pessoais
“Primeiro, avaliar qual é o nosso grau de endividamento e quanto de juros eu estou pagando por esse endividamento. Então, eu gosto de comparar com o cheque especial, que é um um empréstimo fácil que está extremamente acessível para as pessoas. Muitas vezes, basta que você passe lá o cartão de débito ou faça o Pix, você já contratou (entre aspas) esse empréstimo dessa instituição que você tem conta. Então, vamos supor, se a pessoa está frequentemente entrando no cheque especial, não está dando conta de pagar este cheque especial. E ela vai trocar essa taxa de juros de 8% ao mês para uma taxa aí de 2,3, 4% ao mês: vale muito a pena. Ela tem que ser estratégica, porque se ela está todos os meses no cheque especial, alguma coisa está acontecendo com a renda. Então, tem que avaliar exatamente o que acontece com essa renda, contrata esse empréstimo no lugar desse cheque especial. Aliás eu até recomendo: cancele o cheque especial para não entrar de novo e vai pagar um juros um pouco menor. ”
LOC: Você falou sobre estratégia para a tomada de crédito para manejar o orçamento. Além dessa dica, tem alguma outra que a gente possa dar?
TEC//SONORA: Catharina Sacerdote, especialista em Finanças Pessoais
“É até difícil, eu me sinto até meio constrangida de tentar dar dica de orçamento num momento em que eu vejo que as coisas estão tão difíceis: que o quilo da carne está um absurdo, não é? Não dá para pedir para as pessoas comerem menos, ou que deixem de viver por causa do seu orçamento. Mas uma regra que é básica quando a gente fala de orçamento está muito relacionada a entender exatamente todas as fontes de receita que essa pessoa tem, da onde que vem todos os seus recursos financeiros (se vem do meu salário, do meu emprego, então vai ter pouca variação). Se vem de alguma renda extra que se possa fazer (então eu tenho o meu salário, mas eu também consigo vender algum item de alimentação, consegue prestar algum serviço), precisa observar como que é o tamanho dessa fonte de receita e o tamanho das despesas. No cenário ideal, a gente só pode gastar o que vai entrar. ”
LOC: As pessoas estão se endividando mais?
TEC//SONORA: Catharina Sacerdote, especialista em Finanças Pessoais
“Atualmente, a gente chegou numa fase de colocação no mundo em que o dinheiro está muito líquido. A gente tem cartão de débito, cartão de crédito e o próprio Pix. A gente não vê dinheiro na nossa mão praticamente. Se for pensar há 20, 30, 40 anos, as pessoas tinham uma facilidade um pouco menor para se endividar, justamente porque a maioria dos pagamentos eram em dinheiro. Então, você conseguia planejar um pouco melhor. Então, acho que é tempo de a gente pensar não só nesse quanto a gente consome, mas como a gente consome também. Talvez os hábitos de consumo estão relacionados a como a gente gasta. Se a gente puder parar e observar um pouco isso, talvez isso seja significativo para as famílias poderem deixar o seu orçamento dentro daquilo que entra. ”
LOC.: Nós conversamos sobre empréstimos para negativados pela Caixa Econômica Federal com a especialista em Finanças Pessoais Catharina Sacerdote.
Reportagem, Angélica Cordova