LOC.: O ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atuaram nesta quinta-feira (19) como bombeiros para pacificar o mercado, que estava nervoso com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula havia criticado a autonomia do Banco Central, o controle da inflação e os juros. O petista havia dito que a autonomia do Banco Central é “uma bobagem” criada pelo governo anterior, e ainda defendeu uma meta de inflação maior, para poder gastar mais “para ajudar os pobres”.
As declarações espantaram os investidores e causaram forte queda nas bolsas. O dólar subiu e os juros futuros ficaram instáveis. O mercado só começou a se acalmar no meio da tarde, quando o ministro Alexandre Padilha e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entraram em campo. Enquanto Padilha prometia que o governo não vai tirar a autonomia do Banco Central, Campos Neto amenizava a situação de Lula, alegando que as falas do presidente foram descontextualizadas.
Depois disso, a bolsa parou de cair e fechou o dia em alta. Foi registrado um alívio nas taxas de juros e o dólar voltou ao normal.
Mas, nem todos os economistas discordam de Lula. Pelo menos, não em relação à autonomia do Banco Central. Newton Marques, por exemplo, é um economista que trabalhou no Banco Central por 45 anos. Professor licenciado da UnB, ele reconhece que o presidente deveria evitar estas declarações, porque podem conturbar o mercado. No entanto, o professor explicou o porquê de Lula ter falado que a “autonomia” do Banco Central seria uma besteira.
TÉC/SONORA: economista Newton Marques
“Se o presidente Lula falou que isso daí é uma besteira, é porque na época que ele era Presidente existia alguma autonomia – tinha até status de Ministro – o presidente Meireles. E isso aí foi bem resolvido em termos de atuar em conjunto [o ministro da] Fazenda e presidente do Banco Central. Então por isso é que ele colocou e expressou essa opinião dele, como se fosse algo, para dizer: ‘Olha isso daí não é relevante’. E eu concordo com ele, porque estou na linha dos economistas heterodoxos, que eu acho que essa relevância que se dá a uma autonomia do banco central ele já existia, já existia essa autonomia - então agora é porque está em Lei.”
LOC.: Experiente, Newton Marques tem mestrado e doutorado em Economia. Professor licenciado pela UnB, ele entende que Lula quis dizer que a discussão sobre a autonomia do Banco Central não tem mais relevância.
TEC/SONORA: economista Newton Marques
“Com relação a isso é uma discussão entre nós economistas. Porque existem aqueles economistas chamados ortodoxos, que acham que essa independência, essa autonomia operacional, ajuda a controlar a inflação e cria uma blindagem [para que não haja] nenhuma intervenção por parte do governo Federal. Já existe uma outra corrente de economistas heterodoxos, que hoje um dos principais expoentes é o André Lara Rezende, que diz que isso daí não é tão relevante como se coloca.”
LOC.: A autonomia do Banco Central era uma reivindicação antiga dos investidores e economistas em geral. Na visão da maioria deles, um Banco Central forte e independente permite que a instituição se defenda de pressões político-partidárias e de grupos econômicos, qualquer que seja o governante “da vez”.
Reportagem, José Roberto Azambuja