O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, recebeu nesta terça-feira (30), em Brasília, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, para discutir estratégias de expansão comercial do Brasil, com foco na região amazônica.
A principal pauta do encontro foram as habilitações de frigoríficos dos estados do Acre e Rondônia. A iniciativa visa fortalecer a presença da produção amazônica no comércio internacional e impulsionar o desenvolvimento econômico regional.
Entre as medidas discutidas estão:
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Acre ocupa posição estratégica na rota bioceânica por ser o estado brasileiro mais próximo do Porto de Chancay, no Peru. A localização fortalece a conexão do Brasil com o Oceano Pacífico e amplia o acesso a mercados como Chile, Peru e países da Ásia.
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, ressaltou a importância da estratégia para os produtores da Amazônia. “Fávaro e eu discutimos como melhorar o trâmite de exportação na região do Acre, que faz fronteira com Bolívia e Peru. Em breve, o ministro estará no estado para mostrar que as coisas vão mudar muito e para habilitar frigoríficos, que trabalham com carne bovina e suína para novos mercados. O ministro já abriu mais de 440 mercados no mundo e segue liderando essa missão”.
O ministro Carlos Fávaro reforçou que a expectativa é de que o esforço conjunto entre o Governo Federal e a ApexBrasil fortaleça as exportações brasileiras em rotas estratégicas.
“A ApexBrasil, o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio — todos nós, sob a liderança do presidente Lula — estamos empenhados em intensificar ações e gerar oportunidades para o Brasil e para os brasileiros. Estamos somando esforços para impulsionar as exportações por meio da rota bioceânica via Acre. Nosso objetivo é ampliar ainda mais a relação comercial do Acre e do Brasil com o mundo”, disse o ministro.
Neste mês de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Carlos Fávaro, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e demais integrantes do governo participarão de missão oficial à Indonésia e à Malásia. A agenda inclui compromissos em Jacarta (23 e 24) e em Kuala Lumpur (25 e 26).
A programação prevê Fóruns Econômicos e a reunião de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). De acordo com o Mapa, o objetivo é identificar oportunidades de negócios e discutir parcerias estratégicas entre o Brasil e os países da região, o que pode trazer novas possibilidades para o setor de proteína animal.
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As empresas apoiadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) exportaram, em bens, o equivalente a US$ 50,49 bilhões entre janeiro e junho deste ano. O valor representa 30,4% dos US$165,87 bilhões que o Brasil exportou no período ,um aumento de 3,8% em relação ao primeiro semestre de 2024.
O resultado se deve, como mostra o último relatório de desempenho da Agência, ao crescimento do número de empresas por ela atendidas. Ao todo, a ApexBrasil atendeu 14,4 mil empresas. Dessas, 3,4 mil realizaram exportações com o apoio da Agência para 1,8 mil compradores internacionais. Os principais destinos foram China, Estados Unidos, Argentina, Países Baixos e México.
“Esses números são muito significativos, especialmente em um momento em que enfrentamos uma situação geopolítica desafiadora no mundo, mas continuamos apoiando e diversificando o mercado para todas essas empresas apoiadas pela Agência”, ressalta a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Repezza.
A Agência também se empenhou em aproximar-se de empresas brasileiras fora do eixo Sul-Sudeste. "Cerca de 20% das empresas atendidas estão no Norte e Nordeste, regiões que estamos privilegiando muito justamente por serem um celeiro de novas empresas exportadoras para o Brasil”, explica a diretora de Negócios.
Das mais de 14 mil empresas atendidas no período, 1,1 mil são da região Norte, 2,2 mil do Nordeste e 1,5 mil do Centro-Oeste.
Cerca de 50% (7,2 mil) dos empreendimentos atendidos no período são micro e pequenas empresas. As micro e pequenas empresas representaram 50% delas (7,2 mil). “A cifra apresentada no relatório da ApexBrasil é importante, pois são as micro e pequenas empresas que mais precisam, que mais demandam auxílio do governo para conseguir acessar o mercado internacional, pois não contam com os mesmos recursos financeiros, com a mesma rede de contatos e mesmo capital humano que as grandes empresas”, analisa o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Alexandre Andrada.
Ainda de acordo com o relatório semestral de desempenho, entre janeiro e junho, 37 projetos com suporte da ApexBrasil anunciaram US$ 5,94 bilhões em investimentos – US$ 108,5 milhões em projetos nas regiões Norte e Nordeste.
Nesta terça-feira (23), o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, participou da assinatura de um Memorando de Entendimento entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O acordo prevê a instalação de um escritório da em Cuiabá (MT) até o fim de 2025. O objetivo de fortalecer a presença da agência no estado e apoiar o crescimento das exportações e atração de investimentos.
O documento foi assinado pelo presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e pelo presidente da Famato, Vilmondes Tomain, com o ministro Fávaro como testemunha.
A instalação do escritório da ApexBrasil na capital deverá fortalecer a internacionalização da produção mato-grossense, apoiar empresas locais na abertura de novos mercados, atrair investimentos estratégicos e fomentar a diversificação econômica do estado, um dos mais representativos do agronegócio nacional.
Na ocasião, o ministro Carlos Fávaro destacou que a expansão de mercados para produtos agropecuários brasileiros é fruto da parceria entre governo e setor privado. "Não é coincidência termos abertos 437 novos mercados. Tínhamos 29 adidos, agora são 40. Essa é a relação de buscar negócios, de trabalhar junto, ir às feiras internacionais, aproximar o empresário do comprador e gerar oportunidades comerciais. Com esse novo escritório, a Apex vai fazer mais negócios. Quem vai ganhar é a população brasileira, em especial os mato-grossenses."
Fávaro reforçou que a presença da ApexBrasil em Mato Grosso ampliará as oportunidades para o estado. “É a oportunidade de oferecer aos mato-grossenses uma agência que tem se mostrado um grande sucesso em nosso governo, aproximando o Brasil do mundo e fortalecendo tanto a agropecuária quanto a indústria local, a partir da sede da Famato”, concluiu.
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, reforçou a importância estratégica do estado: “Até o final do ano, estaremos funcionando em Mato Grosso, fazendo com que o estado receba investimentos do mundo inteiro. A Apex trabalha com atração de investimentos e na promoção dos produtos do agronegócio e de outros setores da economia mato-grossense no mercado internacional.”
Para Vilmondes Tomain, presidente da Famato, a presença da Apex em Cuiabá vai aumentar a competitividade do estado. “Teremos melhores condições para discutir estratégias de exportação, atrair investimentos e gerar mais oportunidades para Mato Grosso”, afirmou.
Segundo dados da ApexBrasil, Mato Grosso mantém há mais de 20 anos uma balança comercial superavitária, consolidando-se como um dos maiores produtores agrícolas do país. Em 2024, as exportações do estado somaram US$ 27,6 bilhões, sendo soja e derivados, milho e algodão responsáveis por 83% desse total. Ao todo, 251 empresas mato-grossenses participaram do comércio exterior no período.
Entre janeiro e agosto de 2025, as exportações de Mato Grosso totalizaram US$ 19,75 bilhões, com destaque para:
● Complexo soja: US$ 13,07 bilhões
● Carnes: US$ 2,50 bilhões
● Fibras e produtos têxteis (algodão): US$ 1,91 bilhão
● Cereais, farinhas e preparações: US$ 1,60 bilhão
● Produtos oleaginosos (exceto soja): US$ 271,9 milhões
Os principais destinos das exportações mato-grossenses foram China, Espanha, Turquia, Tailândia e Vietnã.
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A missão empresarial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aos Estados Unidos foi concluída nesta quinta-feira (4), em Washington, com avaliação positiva por parte do presidente da entidade, Ricardo Alban. Segundo ele, os encontros abriram espaço para negociações que podem contribuir para reduzir ou flexibilizar as tarifas impostas às exportações brasileiras.
“Faço um balanço muito positivo. Resumindo em duas palavras: missão cumprida”, declarou Alban. Mas, o dirigente completa que ainda há trabalho a ser feito. “A missão continua. Realizamos um trabalho de diplomacia empresarial, que garante as soluções de continuidade necessárias. [Nosso papel] É sermos facilitadores de uma mesa de negociação, seja para [discutir] redução de tarifas, para exceções ou para novas oportunidades”, relatou.
Entre os temas apresentados pela CNI aos norte-americanos estão projetos de produção de Combustível Sustentável da Aviação (SAF), uso da energia renovável brasileira para data centers e exploração de minerais críticos e terras raras. “Toda crise gera desafios. Todos os desafios geram oportunidade. Dentro desse conceito, trouxemos nesta missão três segmentos que podem ser explorados, que são de fortes interesses mútuos”, destacou o presidente da CNI.
A comitiva reuniu 130 empresários, dirigentes de federações estaduais e líderes de associações industriais dos setores mais afetados pelo tarifaço. Ao longo de três dias, participaram de encontros com parlamentares, representantes do governo norte-americano e empresários locais, além da embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Cecília Ribeiro Viotti.
O embaixador Roberto Azevêdo, consultor da CNI, representou a entidade na audiência pública do Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), que investiga práticas comerciais brasileiras. “Ficou evidente que o papel do setor privado é muito importante, sobretudo fazendo contatos com as congêneres americanas. Esse diálogo que nós mantivemos foi muito importante para identificar as sinergias que existem entre os setores produtivos do Brasil e dos Estados Unidos”, avaliou Azevêdo.
Dados da confederação revelam que as tarifas adicionais impostas pelos Estados Unidos impactam cerca de US$ 33 bilhões das exportações brasileiras, em 6 mil produtos. O aumento atinge todos os setores da indústria de transformação, exceto coque, derivados de petróleo e biocombustíveis.
Brasil e Estados Unidos mantêm uma parceria econômica sólida, construída ao longo de mais de 200 anos. Segundo a CNI, nos últimos dez anos, os EUA acumularam um superávit de US$ 91,2 bilhões no comércio de bens com o Brasil, valor que chega a US$ 256,9 bilhões quando incluídos os serviços.
Além disso, a entidade destaca outros resultados gerados pela parceria econômica entre Brasil e EUA:
A parceria também é reforçada pelos investimentos. Entre 2013 e 2023, os EUA foram o principal destino de projetos greenfield brasileiros (aqueles em que empresas estrangeiras iniciam operações no território nacional, a partir do zero), com 142 implantações produtivas anunciadas.
Entre os setores mais afetados da indústria nacional, o de máquinas e equipamentos já sente os efeitos da tarifa de 50% imposta pelos EUA. De acordo com a diretora-executiva de Mercado Externo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Patrícia Gomes, a situação ameaça diretamente a competitividade das empresas brasileiras.
“A tarifa praticada atualmente já é inviável para os exportadores. Acho que o aumento não vai mudar o status, os 50% já são inviáveis para a relação de comércio com os Estados Unidos. Já vemos as empresas com contratos suspensos, com revisão de contratos ou que já estão recolhendo a tarifa, a depender da negociação feita com o cliente, ou até mesmo postergação de entregas. Então, as empresas que exportam já percebem o impacto da tarifa nos seus negócios em relação às exportações”, afirmou Patrícia Gomes, uma das participantes da missão.
A representante relata que a entidade tem atuado em duas frentes: buscar medidas junto ao governo brasileiro – como linhas de crédito, capital de giro e postergação de tributos – e manter o diálogo com os americanos para tentar reduzir as alíquotas. “O que temos de fato solicitado ao governo é continuar buscando a negociação com o governo americano, para termos redução da tarifa ou exceção de produtos do setor, para viabilizarmos o comércio com os Estados Unidos. Esse é o principal objetivo para garantirmos uma competitividade do setor”, pontuou.
Para a Abimaq, a participação na missão organizada pela CNI amplia as oportunidades de aproximação com o setor privado norte-americano, parlamentares e autoridades. “É uma primeira ação – de muitas – que o setor empresarial brasileiro terá que fazer para reduzir a tarifa a um patamar executável, para o setor industrial conseguir exportar e conseguir restabelecer uma relação comercial produtiva com os Estados Unidos”, concluiu a diretora-executiva da associação.
O embaixador Roberto Azevêdo, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), fez a defesa da indústria brasileira durante audiência pública no Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), nesta quarta-feira (3). A sessão faz parte da investigação aberta em julho com base na Seção 301 da Lei de Comércio norte-americana, que analisa se atos ou práticas de outros países são injustificáveis ou restritivas ao comércio dos EUA.
Na sustentação oral, Azevêdo afirmou que os comentários já enviados pela CNI demonstram de forma clara que o Brasil não adota medidas discriminatórias ou prejudiciais. “A noção de que o Brasil está agindo deliberadamente de forma a prejudicar os Estados Unidos é totalmente infundada. Simplesmente não há evidências de que os atos, políticas e práticas em questão discriminem ou prejudiquem injustamente as empresas americanas. Ao contrário, os fatos mostram que as empresas americanas, em geral, se beneficiaram das políticas brasileiras”, destacou.
A investigação norte-americana envolve seis áreas: comércio digital, meios de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, propriedade intelectual, mercado de etanol e questões ambientais, como o desmatamento ilegal. Em seu pronunciamento, Azevêdo apresentou argumentos sobre cada um dos pontos e reforçou que o Brasil tem avançado em marcos regulatórios, combate à corrupção, proteção ambiental e garantias jurídicas.
Na audiência, embaixador Roberto Azevêdo também ressaltou a relevância estratégica da relação bilateral. “Somos as duas maiores democracias deste hemisfério. Deveríamos estar conversando um com o outro, não brigando um com o outro. Quaisquer problemas devem ser resolvidos por meio de diálogo e cooperação contínuos. A CNI apoia iniciativas que fortaleçam os laços entre os Estados Unidos e o Brasil, promovam o crescimento econômico e melhorem as condições de mercado em ambos os países”, afirmou.
O presidente da entidade, Ricardo Alban, ressaltou que os principais argumentos da confederação para as acusações são os fatos. “No caso do etanol, temos uma relação de muitos anos, somos os dois maiores produtores do mundo. Hoje, o etanol é uma grande matéria-prima para a produção do SAF [Combustível Sustentável de Aviação]. Temos que desmistificar também os problemas do desmatamento, dos meios de pagamento – no caso do PIX –, desmistificar o problema de talvez nós não termos as devidas cobranças na parte do Judiciário e mais outros pontos comerciais que são importantes para que a gente possa ter realmente a explicação baseada sempre em elementos, em estatísticas, na condição econômica e comercial.”
A audiência pública no Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos compõe a agenda da missão empresarial liderada pela CNI a Washington. O objetivo é abrir canais de diálogo e contribuir com as negociações para reverter ou reduzir o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A comitiva reúne cerca de 130 empresários, dirigentes de federações estaduais e representantes de associações industriais.
A agenda vai até esta quinta-feira (4), com reuniões no Capitólio, encontros bilaterais com instituições parceiras, plenária com representantes do setor público e privado dos dois países.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera, nesta quarta (3) e quinta-feira (4), uma missão empresarial a Washington (EUA), com o objetivo de abrir canais de diálogo e contribuir com as negociações para reverter ou reduzir o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A comitiva reúne cerca de 130 empresários, dirigentes de federações estaduais e representantes de associações industriais.
A agenda inclui reuniões no Capitólio, encontros bilaterais com instituições parceiras, plenária com representantes do setor público e privado dos dois países e audiência pública na US International Trade Commission, no âmbito da investigação aberta pelo governo americano contra o Brasil, com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. O processo avalia práticas comerciais em áreas como comércio digital, serviços de pagamento, tarifas preferenciais, etanol e questões ambientais.
“Estamos trabalhando de forma profissional, eminentemente de forma particular, privada e empresarial. Nesse momento, é muito delicado que nós possamos ter qualquer vontade ou qualquer determinação de aplicar a lei da reciprocidade. Temos momentos tensos, na geopolítica, mas o que nós queremos mesmo é que não seja precipitada nenhuma decisão em que possamos ter essa tratativa e a busca do bom senso”, declarou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Entre os setores mais afetados pelo tarifaço e que estarão representados na missão estão máquinas e equipamentos, madeira, café, cerâmica, alumínio, carnes e couro. Grandes empresas como Embraer, Stefanini, Novelis, Siemens Energy e Tupy também integram a comitiva.
A comitiva conta com a participação de dirigentes de oito federações estaduais da indústria: Goiás (FIEG), Minas Gerais (FIEMG), Paraíba (FIEPB), Paraná (FIEP), Rio de Janeiro (FIRJAN), Rio Grande do Norte (FIERN), Santa Catarina (FIESC) e São Paulo (FIESP).
No dia 3 de setembro, a CNI, representada pelo embaixador Roberto Azevêdo, participará de uma audiência pública no âmbito da investigação conduzida pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR). O processo foi aberto com base na Seção 301 da Lei de Comércio, que autoriza o governo norte-americano a apurar se políticas ou práticas de outros países configuram barreiras injustas, discriminatórias ou restritivas ao comércio dos EUA.
Os EUA abriram investigação contra o Brasil em julho, englobando temas como comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e questões ambientais, incluindo desmatamento ilegal.
A CNI, como representante oficial da indústria nacional, apresentou defesa técnica, afirmando que o Brasil não adota práticas desleais ou discriminatórias capazes de prejudicar a competitividade das empresas norte-americanas. A entidade ressalta que não há fundamento jurídico ou factual para justificar novas tarifas e lembra que o comércio bilateral é historicamente benéfico para ambos os países, com superávit para os EUA e tarifas em níveis baixos.
A entidade também reforça que medidas unilaterais enfraquecem a parceria estratégica construída ao longo de décadas e defende que as divergências sejam tratadas por meio de diálogo bilateral e cooperação técnica, considerados pela entidade como os caminhos mais eficazes para alcançar resultados de interesse comum.
Estudos da CNI já alertaram que as tarifas adicionais podem gerar um impacto negativo de até R$ 20 bilhões no PIB brasileiro e a perda de 30 mil empregos. Atualmente, 77,8% da pauta exportadora brasileira para os EUA enfrentam sobretaxas, atingindo principalmente setores de vestuário, máquinas e equipamentos e produtos têxteis.
Mesmo com a pressão gerada pelo cenário político, Alban busca equilíbrio para o Brasil não perder a razão nas negociações. “Óbvio que o cenário não é tão favorável, que nós temos muitas pressões, mas precisamos ter um conceito, soberania também tem a ver com o bem-estar de todos, com o bem-estar da sociedade, com o bem-estar do setor produtivo. Isso não significa, de modo nenhum, perder a soberania, mas não vamos perder a razão”, pontuou.
Para mitigar os efeitos da crise no Brasil, a CNI também entregou ao governo federal um conjunto de propostas que inclui linhas de crédito subsidiadas, postergação de tributos e medidas trabalhistas para preservação de empregos.
A confiança da indústria exportadora brasileira desabou após a entrada em vigor do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais. De acordo com levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) do setor exportador caiu de 50,2 pontos, em junho, para 45,6 pontos em agosto, sinalizando a mudança do otimismo para o pessimismo.
O ICEI varia até 100 pontos, sendo que valores abaixo de 50 indicam falta de confiança. A queda foi puxada principalmente pelo Índice de Expectativas, que mede a percepção em relação aos próximos seis meses, e recuou de 52,2 pontos para 47,2 pontos no período.
“As taxas de juros elevadas penalizam o consumo dentro do país. Mas as empresas exportadoras, com a opção de vender para o exterior, contornavam a queda da demanda no mercado doméstico e, por isso, mostravam confiança superior à média da indústria”, explica Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.
Além da queda de confiança, um outro estudo da entidade mostra a dimensão do problema. Atualmente, 77,8% da pauta exportadora brasileira destinada aos Estados Unidos enfrenta tarifas extras, algumas chegando a 50%. Os setores mais impactados são vestuário e acessórios (14,6%), máquinas e equipamentos (11,2%) e produtos têxteis (10,4%).
Segundo a CNI, caso as sobretaxas sejam ampliadas, o efeito pode representar um impacto negativo de R$ 20 bilhões no PIB brasileiro e a perda de cerca de 30 mil empregos na indústria.
A CNI está à frente de uma missão empresarial, em Washington (EUA), nos dias 3 e 4 de setembro, voltada a abrir canais de diálogo e buscar a redução das tarifas extras impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. A comitiva reúne cerca de 130 empresários e representantes de entidades industriais.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, destaca que a entidade busca diálogo e equilíbrio na relação bilateral. “A proposta eminentemente de empresários para buscarmos lá nos Estados Unidos, a busca de uma relação tão longeva que é a relação bilateral, comercial, cultural, social e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, há mais de 200 anos. Esperamos poder chegar e encontrar um ambiente favorável, onde toda essa questão possa ser feita em uma mesa de negociação e que possamos sensibilizar não só os Estados Unidos, mas mesmo o Brasil nessa complementariedade que nós temos, que é o setor industrial, que é a exportação e importação de produtos manufaturados”, afirmou.
A entidade já apresentou ao governo federal um conjunto de propostas para reduzir os efeitos da crise, entre elas linhas de crédito subsidiadas, postergação de tributos e medidas trabalhistas para preservar empregos.
As negociações entre Brasil e Estados Unidos para tentar reverter as sobretaxas de 50% impostas a produtos nacionais continuam sem avanço. Conversas, segundo o governo, pouco produtivas, e a falta de contrapropostas por parte dos EUA estão entre os problemas. Diante do impasse, o governo Lula acionou a Advocacia-Geral da União (AGU), que está em vias de fechar acordo com um escritório de advocacia norte-americano. A ideia é reforçar a interlocução direta em Washington e abrir espaço para a defesa dos interesses brasileiros nos tribunais dos EUA. O governo nega se tratar de lobby, mas reconhece a necessidade de equilibrar forças diante da atuação de grupos políticos americanos que defendem o endurecimento das barreiras comerciais.
O setor produtivo, porém, já sente o impacto imediato. Para o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Alfredo Cotait, a taxação ameaça sobretudo pequenos empresários que exportam de forma direta ou fazem parte de cadeias produtivas, como os de cafés especiais e vestuário.
“Essas empresas pequenas, que respondem por 65% dos empregos, não vão conseguir sobreviver com a taxação de 50%. Isso pode gerar desemprego, porque não há como buscar novos mercados de um dia para o outro. O primeiro impacto será a sobrevivência das empresas, e o segundo, a queda radical na empregabilidade”, afirmou Cotait.
Um dos exemplos mais emblemáticos vem de Fraiburgo, em Santa Catarina, principal polo produtor de maçã do país. A Fisher Sucos, que há mais de 20 anos exporta o produto a granel para os Estados Unidos, está com parte da produção parada no Porto de Santos.
Segundo o gerente industrial da empresa, Sílvio José Gmach, mais de 80% das exportações da companhia têm como destino o mercado norte-americano. Com as novas tarifas, os embarques foram suspensos.
“Desde que teve o tarifaço, nenhum embarque mais tem condição de seguir para os Estados Unidos. Ficamos totalmente sem competitividade. Hoje, temos produto parado no Porto de Santos esperando uma definição de mercado. Se não houver acordo, teremos que retornar com a carga, reembalar e buscar alternativas que não existem no curto prazo”, disse.
Gmach alerta que, sem uma solução diplomática, a empresa pode ter que interromper suas atividades, o que afetaria não só seus 100 funcionários, mas também pequenos produtores rurais da região.
“É um risco real de paralisação das operações. Uma atividade que existe desde 1998, há quase 30 anos, pode ser obrigada a parar. Seria uma catástrofe não só para a empresa, mas para toda a economia local, que depende da destinação dessa matéria-prima”, afirmou.
Enquanto o governo estuda medidas de apoio financeiro, empresas como a Fisher defendem que a única saída viável é uma solução negociada com os Estados Unidos. “A diplomacia ainda é o melhor caminho. O que precisamos é retomar as exportações como antes”, concluiu Gmach.
Empresas já sinalizam redução de vagas nos próximos seis meses em função do tarifaço dos EUA
A nova política tarifária dos Estados Unidos, com alíquotas de até 50% sobre produtos brasileiros, tem frustrado as expectativas do setor industrial. Pela primeira vez desde novembro de 2023, empresários estimam queda nas exportações para os próximos seis meses, o que indica também que o número de empregos pode diminuir.
Em agosto, sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que o índice de expectativa para exportações nos seis meses seguintes recuou 5,1 pontos, atingindo 46,6 — abaixo da linha neutra de 50 pontos, o que indica pessimismo entre os industriais. Essa inversão de perspectiva não ocorria há quase dois anos, segundo a entidade.
“As expectativas relacionadas à quantidade exportada, número de empregados, compra de insumos e matérias-primas e de nível de atividade para os próximos seis meses recuaram em agosto. Essa piora das expectativas relacionadas às exportações da indústria está muito relacionada às incertezas ligadas ao cenário externo, principalmente em função da nova política comercial adotada pelo governo americano”, aponta Isabella Bianchi, analista de Políticas e Indústria da CNI.
Desde o início do mês, quase metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos está sujeita à tarifa combinada de 50%. Em 2024, a venda de produtos nacionais ao mercado norte-americano representou cerca de US$ 17,5 bilhões.
Além das exportações, o indicador de expectativa quanto ao número de empregados também mostra sinais preocupantes. O recuo de dois pontos, atingindo 49,3 — também abaixo dos 50 pontos — sugere que as empresas não projetam aumento, e até uma tímida queda no quadro de trabalhadores até fevereiro de 2026.
“A gente está vendo que os Estados Unidos compram muito mais do Brasil do que o Brasil está comprando os Estados Unidos. Isso faz com que a demanda do brasileiro ao mandar produtos para fora, os Estados Unidos não comprando, vai fazer com que a gente tenha mais produtos para compartilhar com outros países, os Estados Unidos diminuindo a aquisição. Isso é um fator que no Brasil pode aparecer outros players para a gente fechar negócios, mas quem sai prejudicado é a pessoa que produz no Brasil”.
Segundo Sidney Proença, educador financeiro e economista da Firece, o cenário comercial do Brasil ainda é incerto e defende mais “proatividade” e “aproximação” ao negociar a redução das tarifas com Washington. “Entendo que o caminho não é ficar trocando farpas. Vemos que os EUA compram muito mais do Brasil do que o Brasil dos EUA. Se eles não compram da gente, isso faz com que tenhamos mais produtos para compartilhar com outros parceiros comerciais. O problema, com isso, é quem sai prejudicado é a pessoa que produz no Brasil”, argumenta.
Em relação ao pacote de medidas anunciado pelo governo federal para socorrer as empresas exportadoras brasileiras prejudicadas pelo tarifaço, Proença avalia que as medidas, como linhas de crédito e suspensão temporária de tributos, ajudam em curto prazo, mas podem ter um efeito reverso lá na frente.
“As linhas de crédito foram sancionadas pelo governo para não ter desgaste com o governo norte-americano. Só que isso implica mais gasto no bolso do empreendedor, que vai ter um alto custo para passar por essa crise que está sendo vivenciada agora. E aí o que pode acontecer é que o produtor brasileiro vai adicionar esse valor no produto final e, consequentemente, aumentar o custo para o consumidor”, complementa o especialista.
A pesquisa da CNI foi realizada entre 1º e 12 de agosto com 1.500 empresas, sendo 601 pequenas, 518 médias e 381 grandes.
“Crédito e financiamento não resolvem. Para quem já perdeu pedidos, isso só aumenta o endividamento. O governo precisa investir mais em negociação internacional e menos em medidas paliativas.”
A opinião é de Roberto Frey, diretor da Renar Móveis, empresa com mais de 50 anos de história em Fraiburgo, no centro-oeste catarinense. Especializada em móveis de madeira maciça e também reflorestadora, a companhia cresceu exportando para a Europa nos anos 1980 e, depois, consolidou os Estados Unidos como principal destino. Hoje, cerca de 40% de seu volume de vendas depende daquele mercado.
A decisão do governo de Donald Trump de impor um tarifaço de até 50% sobre produtos brasileiros já alterou a rotina da fábrica. Parte dos clientes aceitou pagar mais caro e repassar o custo para o consumidor final, mas outros simplesmente cancelaram pedidos futuros.
“Já reduzimos contratações e diminuímos a produção. Isso se reflete diretamente em empregos, compra de insumos e em toda a economia da cidade”, afirma Frey.
O caso da Renar Móveis não é isolado. Segundo a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), cerca de duas mil pequenas e médias exportadoras podem ser afetadas pela sobretaxa, respondendo por US$ 500 milhões em vendas anuais. Muitas delas não terão fôlego para suportar a medida se não houver mudança no cenário.
Em artigo publicado no O Estado de S. Paulo, o presidente da entidade, Alfredo Cotait Neto, alertou para a gravidade da situação.
“Esses empreendedores investiram muito para ampliar o comércio exterior e não podem ficar desassistidos. Se o tarifaço se mantiver, muitos empreendimentos poderão deixar de existir, aumentando o desemprego”, escreveu.
Para Cotait, o caminho é a negociação diplomática, sem recorrer a retaliações que agravariam ainda mais o ambiente econômico. “Negociar faz parte do DNA brasileiro, e não pode ser diferente agora”, defendeu.
No dia 13 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o Plano Brasil Soberano, tentativa de resposta imediata aos impactos do tarifaço. O pacote reúne ações em três frentes: fortalecimento do setor produtivo, proteção aos trabalhadores e diplomacia comercial.
Entre as medidas estão:
O governo afirma que o objetivo é preservar empregos e preparar o país para ser mais competitivo em futuras disputas comerciais. Mas, para empresários como Frey, as medidas ainda estão longe de resolver o problema.
“Não é com crédito que vamos manter empregos. O que precisamos é de diálogo e de soluções que realmente garantam mercado para os nossos produtos”, reforça o diretor da Renar Móveis.