Doenças

16/06/2024 03:00h

Em casos graves a dengue pode afetar coração, rins, fígado e cérebro, dizem especialistas. O Brasil lidera o ranking mundial de casos da doença, com 82% em todo o mundo.

Baixar áudio

É comum que pacientes infectados por dengue sintam dores no corpo, febre alta e tenham manchas na pele. Esses sintomas duram em torno de 5 a 7 dias. Porém, mesmo após a cura, alguns sintomas podem persistir, como a fadiga extrema, dores musculares e articulares, além de manchas na pele.

Estou com dengue, o que fazer?

O infectologista Julival Ribeiro aponta que as pessoas diagnosticadas com dengue grave, chamada de dengue hemorrágica, podem continuar com sintomas e ter sequelas, como insuficiência cardíaca e miocardite – uma inflamação do tecido muscular do coração. Julival menciona, ainda, que podem haver sequelas cerebrais.

“A depender do quadro clínico da dengue, se foi grave, podem surgir manifestações neurológicas, por exemplo, perda de memória, se a pessoa teve uma inflamação no cérebro, e irritabilidade. Tudo isso pode acontecer a longo prazo com a dengue”, destaca o infectologista.

Caso o paciente apresente sintomas semanas após a cura, deve procurar assistência médica. “Nas pessoas que tiveram dengue grave, é que essas alterações podem durar por longo tempo, ou mesmo tornar-se um problema crônico. Portanto, quem teve dengue, apresenta sintomas depois de várias semanas ou meses, deve procurar um serviço de saúde para esclarecer”, indica Julival.

Dengue hemorrágica

As alterações de saúde afetam, em especial, pacientes que tiveram dengue hemorrágica. O especialista em doenças tropicais do hospital Anchieta e infectologista, Manuel Palácios, explica como a dengue clássica evolui para a hemorrágica.

“A dengue pode evoluir para dengue hemorrágica, ou dengue grave, quando há um aumento da permeabilidade vascular, levando a vazamento de plasma, sangramentos graves e falência de órgãos. A fase crítica, onde o paciente está mais vulnerável, pode durar de 24 a 48 horas”, pontua.

Segundo Manuel Palácios, os sintomas da progressão da doença costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia e coincidem com a queda da febre. Os sintomas são:

  • Sangramentos espontâneos: nas gengivas, nariz e trato gastrointestinal
  • Dor abdominal intensa e contínua
  • Vômitos persistentes
  • Letargia ou irritabilidade

A médica intensivista do Hospital Santa Marta, localizado em Taguatinga Sul no Distrito Federal, Adele Vasconcelos, explica que a dengue causa desidratação interna por perda de líquido, o que faz com que o sangue engrosse e as plaquetas caiam – fatores que aumentam o risco de hemorragia. “A evolução da dengue para a hemorrágica depende de organismo para organismo. A gente só considera uma dengue como hemorrágica se o paciente tiver algum tipo de sangramento, seja ocular, no nariz, na boca, na urina, nas fezes, às vezes até na cabeça, um AVC”, salienta a médica.

Em relação às sequelas da dengue grave, órgãos como coração, rins, fígado e cérebro podem ser afetados. A professora do Gama, no Distrito Federal, Gláucia Ferreira Matos, 45 anos, teve a doença em março deste ano. Ela relata que, além da dengue ter afetado a imunidade dela, tem investigado problemas nos rins e fígado.

“A dengue atingiu gravemente o meu fígado, consequentemente o meu rim também e, agora, eu venho fazendo acompanhamento, exames de sangue, hemograma, alguns exames mais específicos para acompanhar, porque eu venho sentindo sintomas que eu nunca tive na vida antes de ter dengue”, conta a professora.

Têm maior risco de desenvolver dengue hemorrágica crianças, idosos, gestantes, portadores de doenças imunossupressoras (HIV/Aids, doenças autoimunes, neoplasias), além de pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão e indivíduos previamente infectados com um sorotipo diferente do vírus da dengue.

Quadro diagnóstico 

  • Dengue clássica: febre alta, dor de cabeça, dor por trás dos olhos, dores musculares e articulares, exantema (manchas na pele) e, às vezes, sangramento leve das gengivas ou nariz. Dura geralmente de 5 a 7 dias;
  • Depois podem persistir: fadiga extrema, que pode durar várias semanas; dores musculares e articulares, por algumas semanas ou meses; exantema pode aparecer novamente alguns dias após a febre ter cessado e durar de 1 a 5 dias;
  • Progressão para dengue hemorrágica: sangramentos espontâneos nas gengivas, nariz , dor abdominal, vômitos persistentes. Costumam aparecer entre o 3º e o 7º dia, coincidindo com a queda da febre;
  • Sinais de dengue grave: choque, caracterizado por pulso fraco e rápido, pressão arterial baixa, extremidades frias e úmidas; sangramento grave (vômitos com sangue, fezes escuras, sangramento vaginal excessivo, entre outros); comprometimento de fígado, cérebro, coração. Podem surgir de 3 a 7 dias após o início dos sintomas (nos casos graves);

Repercussão da dengue no país

O Ministério da Saúde pontua que, em 2024, o avanço histórico da doença no país fez 10 estados e o Distrito Federal decretarem situação de emergência. 

Veja alguns dados sobre atendimentos por dengue na rede pública do país:

  • Goiás: 3.835 internações de janeiro a 4 de junho de 2024;
  • Mato Grosso: 1.991 hospitalizações este ano (enviados até dia 4 de junho);
  • Bahia: foram 9.958 hospitalizados em 2024 (enviados até dia 5 de junho);
  • Distrito Federal: 72.615 pacientes foram atendidos por dengue este ano (dados até 14 de junho).

Em um levantamento realizado pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), de 3 a 13 de maio de 2024, 96% dos hospitais paulistas registraram aumento de internações de pacientes por dengue e síndrome respiratória aguda grave (SRAG).

Segundo o informe da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o número de diagnósticos e mortes por dengue em 2024, com 82% dos casos registrados no mundo, sendo 6,3 milhões de casos prováveis e 3 milhões confirmados em laboratório.

Prevenção e combate à dengue 

Com uma vistoria de 10 minutos semanais em casa, os moradores podem acabar com os possíveis criadouros do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, segundo o Ministério da Saúde. Confira alguns cuidados:

  • Colocar areia nos vasos de plantas;
  • Verificar garrafas, pneus, calhas, caixas d'água;
  • Checar o recipiente atrás da geladeira e climatizador;
  • Olhar plantas e pratos que acumulem água;
  • Amarrar bem sacos de lixo;
  • Limpar bem as calhas de casa.

Para mais informações sobre a dengue e formas de prevenção, acesse: www.gov.br/mosquito.  
 

Copiar textoCopiar o texto
29/05/2024 00:02h

Entre 2021 e 2022, houve um aumento de quase 10 mil internações registradas por doenças associadas à falta de saneamento básico, aponta Ministério da Saúde

Baixar áudio

A exposição da população a condições precárias de saneamento implica em problemas de saúde, que podem levar a incidência de doenças de veiculação hídrica. É o que mostra dados do DATASUS presentes no Painel Saneamento Brasil, do Ministério da Saúde. Conforme levantamento, entre 2021 e 2022, a região Sul registrou mais de 23 mil internações por falta de saneamento básico. Um aumento de quase 10 mil casos associados a doenças de veiculação hídrica.

A ausência do tratamento adequado da água e o despejo irregular de esgoto resultam em doenças como diarreia, febre amarela, dengue, leptospirose, malária e esquistossomose, explica o médico infectologista Hemerson Luz.

“A diarreia com as suas diversas causas, as infecções de peles, as parasitoses intestinais podem ter repercussões graves, principalmente em crianças que estão convivendo com a insegurança alimentar, pois a desnutrição associada à falta de saneamento pode ter um impacto importante na qualidade de vida e na expectativa de vida dessas crianças”, lamenta.

Ainda de acordo com dados do DATASUS (2022), foram registrados 350 óbitos ocasionados por essas enfermidades – um aumento de 100 óbitos quando comparados com o ano anterior.

Trabalhar com a prevenção

Para a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, o aumento dessas doenças demanda mais despesas públicas e privadas com o tratamento das pessoas infectadas e ainda piora a situação de quem vive em áreas com ausência dos serviços de saneamento.

“A falta da rede de esgoto e o fato de não ter banheiro nas áreas rurais pioram ainda mais a situação. Muitas vezes a população tem uma fossa na sua residência, ou sequer uma fossa, só uma fossa negra e cavam um poço para buscar água, muitas vezes em regiões ao lado, de onde se está lançando esse esgoto bruto e isso traz todas as doenças associadas à falta de saneamento básico”, reforça.  

Os números do DATASUS revelam que, só na região Sul, foram gastos mais de 11 milhões com internações de enfermidades associadas à ausência de saneamento.

Segundo Luana Pretto, para mudar esse cenário serão necessários investimentos e comprometimento. “Só assim será possível reduzir as despesas com internações, promover qualidade de vida e bem-estar da população”, observa.
 

Copiar textoCopiar o texto
28/05/2024 00:03h

Apenas 32 municípios tratam 40% ou menos de seu esgoto, segundo Trata Brasil

Baixar áudio

Todas as localidades do país têm como meta atender 90% da população com coleta e tratamento de esgoto até 2033, de acordo com o Marco Legal do Saneamento. No entanto, oferecer à população atendimento de qualidade ainda é um dos grandes desafios a serem superados pelo Brasil. Entre as cidades brasileiras mais populosas, o indicador médio de tratamento de esgoto é de 65,55% — de acordo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS), ano-base 2022.

Os dados estão presentes no Ranking do Saneamento 2024, produzido pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados. Ele mostra que existe defasagem nesse indicador com apenas 32 municípios — com 40% ou menos de tratamento do seu esgoto. 

Para Guillermo Glassman, advogado, professor, pesquisador em Pós-doutorado da USP e sócio de SPLAW, infelizmente ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Ele reclama da ausência do poder público, ao apontar os problemas da falta de tratamento de esgoto no Brasil

“È a contaminação de solos pelo deslocamento dessas águas de regiões de tratamento adequado de lixo para outras regiões numa posição menos elevada naturalmente. Então essas são as duas principais consequências, contaminação de águas, das águas inclusive que serviriam para abastecimento da população e a contaminação de solos”, observa.

Segundo o levantamento, seis municípios apresentaram valor máximo (100%) de tratamento de esgoto e outros 23 tiveram valores superiores a 80%. A pesquisa pontua nota máxima somente àqueles municípios que também alcançam a universalização em termos de atendimento (coleta), conforme as metas do Marco Legal do Saneamento Básico.

Brasil teve mais de 200 mil internações causadas por doenças relacionadas à água sem tratamento, só em 2020

SANEAMENTO BÁSICO: Em um ano, tratamento de esgoto cresce apenas 1% no Brasil

O despejo irregular de esgoto tem implicações severas à saúde da população, propiciando a incidência de internações e óbitos por doenças associadas à falta de saneamento. Para mudar esse cenário, todas as localidades brasileiras devem estruturar planos e ações voltadas para a melhoria da infraestrutura básica, avalia o médico Hemerson Luz.

“Obras para a limpeza de áreas com atividades humanas, o manejo de resíduos sólidos, o tratamento das águas e a destinação do lixo devem ser prioridade. Atividades estas que os governos locais devem levar até a população”, aponta o médico.
 

Copiar textoCopiar o texto
24/05/2024 00:15h

Na fase aguda, provoca febre, dores de cabeça e cansaço. Mas sem tratamento, pode evoluir e afetar órgãos como o coração, intestino e o esôfago. Mas a rede pública oferece diagnóstico e tratamento para a doença de Chagas, uma das 11 doenças determinadas socialmente, que o programa Brasil Saudável, do Governo Federal, pretende eliminar até 2030

Baixar áudio

Os primeiros sintomas são comuns a várias doenças: febre, cansaço, dor de cabeça. Mas a doença de Chagas, ainda endêmica na região Norte, pode impactar esôfago, intestino e coração, e levar à morte. O Amapá é o segundo estado com maior incidência da doença no Brasil, atrás apenas do Pará. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, foram 31 infecções pela doença. 

Multissistêmica, a doença de Chagas é caracterizada por uma fase aguda — que pode durar semanas ou meses —, apresentando sintomas leves ou até assintomática. Também existe a fase crônica, como explica o coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais — como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada — não tem sintomas clássicos. E, após algum tempo, que pode durar anos, pode desenvolver a forma crônica. E essa é uma forma que pode ser tanto cardíaca — que afeta o coração — como digestiva, podendo afetar o esôfago e o intestino. Se a pessoa tratar, tanto na fase aguda como na forma indeterminada, ela pode, sim, eliminar o Trypanossoma cruzi e não desenvolver essa forma crônica”.

Doença de Chagas: transmissão no Amapá

Uma das principais formas de transmissão no Amapá é a oral, no consumo de alimentos contaminados por barbeiro com o Trypanosoma cruzi — devido à falta de higiene e de cuidados no momento do processamento. Em 2023, pelo menos quatro mortes pela doença foram causadas depois da ingestão de açaí natural contaminado com o barbeiro, segundo a Secretaria de Saúde do Amapá. Um problema comum, como explica Rackel Barroso, gerente do Núcleo de Vigilância Ambiental estadual.

“A contaminação na nossa região acontece, na maioria das vezes, por conta de alguma falha no processamento do açaí natural — que é um alimento muito consumido aqui, na região. No momento que o fruto é processado, às vezes de forma muito artesanal, pode haver uma contaminação pelo vetor”. 

Foi justamente dessa forma que a analista administrativa Valéria Lima, de 39 anos, de Macapá, contraiu Chagas. Ela, a filha pequena, o marido e outras 14 pessoas. Todos participavam de uma festa no interior do estado. Comeram açaí artesanal e, poucos dias depois, os sintomas apareceram. 

A primeira a sentir os sinais foi a própria Valéria: febre alta por mais de 10 dias seguidos. O resultado do exame demorou e só no décimo oitavo dia, já internada e tomando soro, que veio o diagnóstico. Mas assim que o tratamento começou, os sintomas cederam. “No terceiro dia de medicação, já sumiu a febre, sumiram as manchas”, relata.

“Como foi descoberta logo no começo, a medicação já começa a fazer efeito. Tive nada e só precisei fazer check-up anual. Hoje, faço a cada dois anos. Tenho uma vida normal”. 

A gerente da Vigilância Ambiental Rackel Barroso explica como a população pode se prevenir contra essa forma de transmissão da doença de Chagas.  

“Primeiro, evitar essa maneira [de consumir o produto] que não passa por todas as etapas de processamento, inclusive o branqueamento — que é um choque térmico que o fruto passa no momento do preparo. E também pela catação, que é uma esteira de tratamento onde se põe o fruto e embaixo caem todas as sujidades, ou seja, aquilo que a gente não quer que esteja no alimento”, orienta a gerente. 
 
A gestora ainda indica que a população procure locais de processamento do fruto que tenham licença de Vigilância Sanitária e cumpram todas as etapas de cuidado e certificação do preparo do açaí. 

Além da transmissão oral, há também a vetorial, pela picada do barbeiro infectado, permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea. Há uma terceira forma de transmissão, a vertical, quando a gestante infectada por Trypanosoma cruzi pode passar para o bebê durante a gestação ou no parto. 
Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas e a aplicação de inseticidas residuais realizada por equipe técnica habilitada. Também preconiza o uso de repelentes, roupas de mangas longas, durante atividades noturnas em áreas de mata.

Doença de Chagas: referência e tratamento no Amapá

No Amapá, o atendimento começa sempre na Atenção Primária, ou seja, em uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios. O médico pede um exame específico que deve ser realizado no Laboratório Central de Saúde Pública do Amapá (Lacen).  Com o resultado em mãos, a pessoa retorna ao médico na UBS. Caso positivo, o encaminhamento é feito a três unidades de referência da doença, em Macapá (AP), para dar início ao tratamento e acompanhamento com especialista. São elas: Hospital de Clínicas Alberto Lima (Hcal), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte e UBS Rubin Aronovitch, onde há um médico infectologista para o atendimento às pessoas com a doença.

O tratamento para as fases aguda e indeterminada da doença dura cerca de 60 dias, feito com Benznidazol em comprimidos, produzido por um laboratório público brasileiro — fornecido exclusivamente pelo SUS. Segundo Francisco Edilson de Lima Júnior, coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, quanto antes a pessoa começa a se tratar, maiores as chances de sucesso. 

“O tratamento tem maior eficácia quanto antes for feito. Na forma aguda, tem uma alta eficácia e, também, na forma indeterminada. Na forma crônica, dependendo do estágio que a doença tiver, o tratamento já não vai ter tanto efeito. Os tratamentos para a forma crônica são muito mais úteis para os sintomas”, explica o gestor.

A doença de Chagas é a infecção parasitária que mais mata no Brasil. Autoridades de saúde estimam que a doença de Chagas atinge de um a três milhões de brasileiros atualmente. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em abril deste ano, sobre notificações da doença de Chagas, mostra que entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, foram registrados 5,4 mil casos de doença de Chagas, em 710 municípios.

Doença de Chagas: eliminação da doença é um dos objetivos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a eliminação de 11 doenças socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas—, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a essas doenças é prioridade. De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero”, explica o coordenador-executivo do Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. O gestor completa: “E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Macapá e Serra do Navio são as duas cidades amapaenses prioritárias no Brasil Saudável. A capital possui altas cargas de doença de Chagas, sífilis congênita, HIV/aids, hanseníase e tuberculose. Já o município de Serra do Navio tem cargas elevadas de malária e geo-helmintíases.

Copiar textoCopiar o texto
23/05/2024 00:01h

A hepatite B é uma das 11 doenças e 5 infecções socialmente determinadas a terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas pelo programa Brasil Saudável, do Governo Federal , com ações coordenadas de 14 ministérios.

Baixar áudio

Podem ficar anos sem se manifestar, mas quando apresentam os primeiros sintomas, podem ser graves e levar à morte. As hepatites virais — dos tipos B e C — foram responsáveis pela morte de mais de 83 mil pessoas no país entre 2000 e 2021, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 2023. 

Ainda de acordo com o levantamento do Ministério, a maior parte dos casos está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. São Paulo é a Unidade da Federação com o maior número de registros: de 2000 a 2022, foram notificados 58,6 mil casos do tipo B e 133,6 mil da C.

Diante desse contexto, a hepatite B foi incluída no rol de 11 doenças e 5 infecções determinadas socialmente a serem eliminadas ou terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas pelo Programa Brasil Saudável, do Governo Federal, que prevê ações coordenadas de 14 ministérios.

Doenças totalmente evitáveis, mas que se não forem diagnosticadas e tratadas da maneira correta, podem levar a problemas hepáticos graves, como explica Artur Olhovetchi Kalichman, coordenador-geral de Vigilância do HIV/AIDS e das Hepatites Virais no Ministério da Saúde.  “São causadas por vírus. Normalmente, têm poucos sintomas, a pessoa pode cursar assintomática com a hepatite B ou C. Porém, no passar do tempo — principalmente a hepatite C —, pode levar a problemas sérios: câncer, cirrose”. 

Pelo caráter silencioso e progressão lenta, a pessoa pode passar anos sem saber que tem hepatite. Por isso, as autoridades de saúde destacam a importância da testagem. O teste para ambas as doenças é feito na atenção básica do SUS — em UBSs, centros de saúde e outras unidades especializadas. Trata-se de um teste rápido, feito apenas com uma gota de sangue e que tem o resultado pronto em poucos minutos. 

Hepatites Virais: tipos

Dentro os quatro tipos de hepatites existentes (A, B, C e D), a hepatite B atinge 21,5% das pessoas. A principal forma de contágio é sexual, mas também pode ser transmitida de mãe para filho no parto (transmissão vertical). Desde 1988, a vacina para a doença está disponível pelo SUS desde o nascimento. Mas adultos que não têm a doença podem receber as doses. A hepatite B não tem cura, mas pode ser prevenida pela vacinação, oferecida na rede pública de saúde do SUS.

“É importante falar que há vacina para a hepatite B. Nossa expectativa é, de fato, eliminar a hepatite B, porque já entrou no Calendário Nacional de Vacinação do SUS, as crianças quando nascem já estão tomando a vacina para hepatite B; os adultos também, fazendo um teste, vendo que nunca teve hepatite B, podem tomar vacina.

No caso da hepatite B, uma arma fundamental de saúde pública é a vacina. E incentivamos todo mundo a buscar a vacinação. [Recomendamos] Os pais vacinarem seus filhos e os adultos a buscarem a sua própria vacinação”, pontua Kalichman .

No Brasil, a hepatite B está presente nas cinco regiões. Mas é nos grandes centros que aparece com mais frequência (ver mapa interativo abaixo). 


Já a hepatite C é o tipo que mais aparece entre as virais no Brasil — responsável por 76,1% dos casos. O contágio acontece principalmente pelo sangue contaminado, compartilhamento de agulhas ou instrumentos não-esterilizados, ou ainda de forma menos comum, por meio do sexo se o uso de preservativos — se houver algum fissura ou sangramento na região intima. Ainda pode ser transmitida verticalmente, de mãe para filho, durante o parto. 

A hepatite C ainda não tem vacina, mas tem tratamento e cura. O tratamento oferecido pelo SUS é feito com os chamados antivirais de ação direta (DAA). O ciclo dura entre 4 e 12 semanas, não tem efeitos colaterais e apresenta taxas de cura de mais 95%.

E foi justamente com esse tipo de vírus que a professora aposentada Faustina Amorin Silva, 83 anos, conviveu por mais de 40 anos. A moradora de Araçatuba (SP) conta que contraiu hepatite C depois de um aborto espontâneo, nos anos 60. Por ter perdido muito sangue, ela precisou de uma transfusão e foi aí que ela acredita ter sido infectada. 

Foram décadas convivendo com a hepatite, sem sintomas. Até que nos anos 2000 Faustina precisou fazer uma cirurgia e o médico recomendou colher o sangue para uma autotransfusão. E foi aí que ela descobriu a hepatite C, que já estava em nível 2 — uma pré-cirrose.

Na época da dona Faustina, o tratamento era muito mais agressivo e longo: durava 48 semanas. Mas ela conta que valeu a pena todo ‘sacrifício’. “Foram 48 doses. Na 12ª segunda semana, foi o teste. Já estava negativada [para hepatite C] na 36ª. Nunca mais voltou o meu vírus”, relata

Hoje, aos 83 anos, Faustina é presidente de uma organização não governamental que informa sobre a prevenção e a importância da detecção das hepatites virais. Viaja pelo país dando palestras sobre essas doenças em escolas e outras instituições. Além disso, promove encontros de testagem para a detecção da doença. “Falta de informação e de busca ativa são os principais problemas hoje para a enfrentamento das hepatites virais. Um trabalho que venho fazendo junto à sociedade civil para tentar eliminar a doença”, afirma. 

Hepatites virais: transplantes de fígado

Quem se infecta com as hepatites virais (B ou C) pode ficar anos assintomático. Apesar disso, é capaz de infectar outras pessoas se tiver relações sexuais sem proteção ou por compartilhar agulhas e seringas. Entre os sintomas que podem aparecer que servem de alerta estão: icterícia — uma condição que deixa a pessoa com a pele amarelada —, além de inchaço abdominal. Nos casos mais graves, a hepatite pode evoluir para uma cirrose ou até mesmo câncer de fígado. 

As hepatites B e C são a principal causa de transplante de fígado no Brasil. Um último estágio da doença que só costuma evoluir quando ela não é descoberta e tratada da forma correta, como explica Kalichman. “Seja do ponto de vista do sofrimento individual de chegar a precisar de um transplante por estar com o fígado sem funcionar, seja pelos custos enormes que isso acaba trazendo para o SUS. Comparando com uma vacina ou um diagnóstico precoce, é muito importante  —  seja por bem-estar de cada um ou do ponto de vista de saúde pública  —  que cada vez menos gente evolua para cirrose ou para câncer. E que as pessoas façam o diagnóstico precoce e se tratem”.

Hepatites virais: Programa Brasil Saudável e enfrentamento 

Uma das políticas públicas mais recentes, que hoje virou um programa de governo para o enfrentamento das hepatites virais e de outras doenças e infecções socialmente determinadas, é o Brasil Saudável. Por meio da integração do Ministério da Saúde com outros 13 ministérios, o programa tem por objetivo eliminar a transmissão vertical das hepatites virais. 

Além disso, o programa está de acordo com as metas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para diagnosticar 90% das pessoas, tratar 80% dos que foram diagnosticados e reduzir em 90% as novas infecções. Com isso, a meta é reduzir em 65% a mortalidade pela doença. 

Para Kalichman, o maior desafio da eliminação esbarra na determinação social da doença. “O Brasil Saudável vem, justamente, tentar lidar com essa dimensão dos determinantes sociais e, principalmente, da pobreza, das iniquidades. E tentar — junto todos os ministérios envolvidos dentro da proposta do Brasil Saudável — como é que a gente, além do setor saúde, consegue promover cidadania, melhores condições de vida [às pessoas em situação de vulnerabilidade]. E, para isso, os ministérios — como os que cuidam de Bolsa Família, que cuidam de saneamento, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça — são muito importantes. E a ideia do Brasil Saudável é, justamente, que as políticas públicas de todos os ministérios —  como transferência de renda, por exemplo — possam ajudar a que as pessoas consigam fazer o diagnóstico, se manter e fazer todo seu tratamento”. 

Copiar textoCopiar o texto
15/05/2024 00:04h

Problema de saúde pública no Brasil, a doença afeta de 1 a 3 milhões de brasileiros, segundo estimativas das autoridades – muitas pessoas estão infectadas sem diagnóstico. Transmissão oral da doença ainda preocupa gestores. A eliminação da Doença de Chagas até 2030 é uma das metas do programa Brasil Saudável, do Governo Federal, que coordena ações de 14 ministérios para reduzir determinantes sociais e eliminar uma série de infecções e doenças como problemas de saúde pública para uma série de doenças socialmente determinadas

Baixar áudio

Uma doença que parece distante, mas que pode estar mais perto do que a gente imagina — e trazer consequências graves para a saúde de quem não tem diagnóstico e não trata da maneira correta. Autoridades de saúde estimam que a doença de Chagas atinge de 1 a 3 milhões de brasileiros atualmente. 

“Hoje, temos, em média, notificados cerca de 300 a 400 casos novos agudos no país [por ano]. E imaginamos que pode haver uma subestimativa desse valor, por haver alguns pacientes que não diagnosticam”, afirma o médico Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, nesta entrevista ao Brasil 61. 

A seguir, o gestor do Ministério aborda os aspectos básicos da doença de Chagas e como esse problema de saúde é enfrentado e tratado no Brasil.

Brasil 61: O que é a doença de Chagas?

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “Trata-se de uma doença infecciosa, causada por um protozoário chamado Trypanosoma cruzi, presente em animais silvestres. E esse animal silvestre pode transmitir para o inseto conhecido como barbeiro — ou chupão — e ele elimina o Trypanosoma cruzi nas suas fezes. É a partir daí que pode infectar o ser humano de várias formas”.

Brasil 61: Quais são as formas como a doença de Chagas se apresenta?

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais — como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada — não tem sintomas clássicos. E, após algum tempo, que pode durar anos, pode desenvolver a forma crônica. E essa é uma forma que pode ser tanto cardíaca — que afeta o coração — como digestiva, podendo afetar o esôfago e o intestino. Se a pessoa tratar, tanto na fase aguda como na forma indeterminada, ela pode, sim, eliminar o Trypanossoma cruzi e não desenvolver essa forma crônica”.

Brasil 61: Como é feito o tratamento? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “O tratamento é feito por um medicamento que o SUS fornece, o benznidazol. O medicamento que vem em comprimidos e que é produzido só pelo laboratório público brasileiro, é fornecido somente no SUS. O tratamento não é demorado, leva cerca de algumas semanas (60 dias) e pode ser fornecido na própria unidade de saúde. Quando o paciente busca a unidade de saúde, já será informado sobre a localidade onde o tratamento estará disponível”. 

Brasil 61: A pessoa que faz o tratamento de forma correta fica curado? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “O tratamento tem maior eficácia quanto antes for feito. Na forma aguda (da doença), tem uma alta eficácia e, também, na forma indeterminada. Na forma crônica, dependendo do estágio que a doença tiver, o tratamento já não vai ter tanto efeito. Os tratamentos para a forma crônica são muito mais úteis para os sintomas. Para a forma cardíaca por exemplo, são necessários outros medicamentos para poder dar uma melhor qualidade de vida para o paciente, mas não para eliminar o protozoário”.  

Brasil 61: Qual a atual incidência da doença no país? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “Hoje, temos, em média, notificados cerca de 300 a 400 casos novos agudos no país, (por ano). E imaginamos que pode haver uma subestimativa desse valor, por haver alguns pacientes que não diagnosticam e, principalmente, pela forma de transmissão oral — que é ingerindo alimentos que contenham o Trypanosoma cruzi vindo do barbeiro. Ou seja, ou o barbeiro foi triturado junto com o alimento ou que tinha fezes do barbeiro naquele alimento que não foi bem higienizado. Então a contaminação acontece pela forma oral, especialmente na região Norte”.

Brasil 61: Há estimativa de quantas pessoas vivem com a doença na forma crônica no país? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “Não temos dados exatos, mas estimativas de que nós tenhamos de 1 milhão a 3 milhões de pessoas infectadas, que vivem com a doença. E muitos não sabem, não são diagnosticados. São pessoas que foram infectadas no passado, quando a forma de transmissão principal, há quatro décadas, era pela picada do Triatoma infestans — a espécie mais frequentemente encontrada nas casas das pessoas [à época], já eliminada no Brasil”.

Brasil 61: Qual a relação da infecção pela doença de Chagas e as condições de pobreza? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “(Tem relação direta com) as condições como o alimento é higienizado, como pode ser consumido e a dependência que as pessoas têm de determinados alimentos em algumas regiões. São fatores que estão associados às condições em que as pessoas vivem que favorecem a transmissão aguda. E também outras condições, como as moradias, que ainda podem favorecer o barbeiro eventualmente colonizar”.

Brasil 61: Como o sistema de saúde faz o rastreio da doença de Chagas no Brasil? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “O diagnóstico tem sido feito de forma passiva, as pessoas buscam o atendimento e podem ser ‘suspeitadas’ e diagnosticadas. O Brasil está com algumas iniciativas pelo Ministério da Saúde, avaliando a implementação deste rastreio ativo. O Ministério tem financiado projetos como o IntegraChagas-Brasil, um projeto que tem tanto na Amazônia quanto nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, em que a gente está ‘triando’ [realizando teste de triagem] tanto mulheres em idade fértil, por conta do risco de transmissão vertical da mamãe para o bebê, quanto pessoas com histórico de contato com o barbeiro”. 

Brasil 61: Como se dá essa transmissão vertical da doença de Chagas?

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “A gestante infectada [por Trypanosoma cruzi] pode passar (a doença), tanto durante a gestação quanto no parto. Então, é importante que essa gestante seja acompanhada e a criança, ao nascer, também seja monitorada para que possa fazer testes, exames e, eventualmente, o tratamento também. Porque a criança pode ser tratada e curada, já que as chances de cura são muito altas, se for tratada no início, assim que nasce”. 

Brasil 61: Como prevenir a forma clássica de transmissão da doença de Chagas? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “A prevenção vai depender muito da forma de transmissão. A vetorial — quando o barbeiro se alimenta do sangue da pessoa —, geralmente acontece no período noturno, durante o sono. O barbeiro defeca, elimina suas fezes no local. E como o local da picada fica irritado, a pessoa coça, espalha aquelas fezes, facilitando a entrada do Trypanosoma cruzi pelo orifício deixado na picada [do barbeiro]. Para prevenir essa forma, principalmente em áreas onde há identificação do barbeiro, é evitar que ele entre na casa — usando mosquiteiro, telas na janela, vedar as frestas”. 

Brasil 61: As formas oral e vertical de transmissão da doença também podem ser evitadas? Como? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “As outras formas, talvez a principal, seria a de transmissão oral — para os alimentos. Então, a principal forma de prevenção é higienizar bem os alimentos. Pois, em geral, isso acontece quando o barbeiro é moído junto com o fruto ou outro alimento e a pessoa não vê. Como se trata de um inseto relativamente grande [para identificar], se o alimento for bem higienizado, eliminamos grande probabilidade disso [contaminação do alimento] ocorrer. Além disso, para a forma de transmissão vertical — da mamãe para o bebê —, a principal forma de prevenção é a testagem da gestante e das mulheres em idade fértil para que tratem e evitem a transmissão para o bebê”. 

Brasil 61: Por meio do programa Brasil Saudável, o Ministério da Saúde e outros 13 ministérios trabalham para eliminar a doença de Chagas e outras doenças socialmente determinadas no país. É uma meta possível? 

Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior: “É uma meta bem desafiadora. Temos a meta de eliminar a transmissão vertical. A eliminação da doença de Chagas de uma forma geral, da forma aguda, por exemplo, é mais desafiadora ainda porque ocorre em geral por transmissão oral, são surtos residenciais, em comunidades rurais, populações afastadas que fazem seu alimento em casa. E isso requer um esforço um pouco maior para conseguirmos atingir essas populações. Mas acreditamos que é possível”. 

Doença de Chagas: eliminação da doença é um dos objetivos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a eliminação de 11 doenças socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas —, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a essas doenças é prioridade. De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

A doença de Chagas tem tratamento no SUS e cura. Para isso, é fundamental que seja rastreada e tratada de forma correta. O diagnóstico pode ser feito por exame de sangue, nas unidades de Atenção Básica da rede pública. 

Para mais informações sobre a doença de Chagas e sobre o programa Brasil Saudável, acesse www.gov.br/saude.
 

Copiar textoCopiar o texto
13/05/2024 00:02h

Nesta entrevista, o coordenador-executivo do Brasil saudável, o médico sanitarista e epidemiologista Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, fala sobre o desafio eliminar doenças e infecções de transmissão vertical relacionadas à situação de pobreza

Baixar áudio

Doença de Chagas, tuberculose, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, tracoma, oncocercose, hiv, /aids, hepatite B, sífilis e HTLV.

Essas doenças e infecções são responsáveis por milhares de mortes ao ano no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, só a tuberculose foi a causa da morte de mais de cinco mil pessoas em 2022. O que elas têm em comum? O fato de serem doenças determinadas socialmente. Ou seja, enfermidades relacionadas à condição de pobreza e à falta de saneamento, que atingem populações em situação de vulnerabilidade social e econômica. Mas a boa notícia é que no SUS é possível encontrar diagnóstico e tratamento de forma gratuita. 

Neste contexto, o Governo Federal criou, em fevereiro deste ano, o programa Brasil Saudável. Coordenado pelo Ministério da Saúde, o Programa reúne esforços deste e de outros 13 ministérios para reduzir a transmissão e a mortalidade dessas doenças e infecções.

Por meio do Programa, as pastas estão atuando em frentes, com foco no enfrentamento à fome e à pobreza, na ampliação dos direitos humanos e proteção social para populações e territórios prioritários. Há ainda a previsão da qualificação de trabalhadores, movimentos sociais e sociedade civil, de incentivos à inovação científica e tecnológica para diagnóstico e tratamento, e da ampliação das ações de infraestrutura e de saneamento básico e ambiental. 

O coordenador-executivo do Programa Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, conversou com o Brasil 61 e falou sobre a ação — na perspectiva da saúde pública — e sobre o panorama dessas doenças no país.

Brasil 61: O que é o Brasil Saudável?

Draurio Barreira: “É o Brasil retomando seus compromissos internacionais e se comprometendo a eliminar uma série de doenças até 2030, enquanto problema de saúde pública. Até essa data, acabar com as epidemias de aids, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite e doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis”.

Brasil 61: O que são as doenças socialmente determinadas?

Draurio Barreira: “São as que têm cura, formas de eliminar, mas por questões sociais continuam existindo. De todas as doenças do Brasil Saudável, sete delas não existem no Hemisfério Norte, já foram eliminadas. Só existem em países pobres ou em desenvolvimento. Isso é vergonhoso para um país [Brasil] que é a nona economia do mundo ainda conviver com doenças que não são do século passado — são de três milênios antes de Cristo. A gente poderia traduzir, de forma bem simples, como doenças causadas pela pobreza”.
 

Brasil 61:  Quais são elas?

Draurio Barreira: “Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero. E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de forma a ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Brasil 61: A eliminação da chamada transmissão vertical de algumas infecções- da mãe para o bebê - também está prevista no programa?

Draurio Barreira: “Temos cinco infecções que são transmitidas de mãe para filho durante a gestação ou durante a amamentação. Que são a doença de Chagas, o HIV, o HTLV — outro vírus parente do HIV —, a hepatite B e a sífilis congênita”.

Brasil 61: As doenças incluídas no Programa têm cura?

Draurio Barreira: “Todos os anos, morrem milhares de pessoas acometidas por essas doenças. Doenças que têm tratamento. A maioria tem cura. Podemos curar todas as doenças do Brasil Saudável e, de fato, eliminá-las enquanto problema de saúde pública. A única doença [causada pela infecção do vírus HIV] que ainda não tem cura, mas tem tratamento é a aids. Então, não há justificativa para que as pessoas morram dessas doenças. E esse é o objetivo do programa”.

Brasil 61: Que regiões do Brasil essas doenças estão mais presentes?

Draurio Barreira: “Estamos falando de 11 doenças. Então, algumas delas são disseminadas em todo o país. Tem aids, tuberculose, hanseníase e hepatite no país inteiro. Tem lugares que concentram mais [cargas das doenças], principalmente nos grandes centros urbanos. Mas tem algumas doenças limitadas geograficamente. Malária, por exemplo, só tem na região Amazônica. Então, se você pegar o mapa dos 175 municípios alvos do Programa Brasil Saudável, temos todas as capitais, porque têm muita gente e concentração de doenças, pobreza e desigualdade social”.

Brasil 61: De que forma essas doenças reduzem a expectativa de vida das pessoas infectadas?

Draurio Barreira: “Hoje, se olharmos para essas 11 [doenças], a tuberculose tornou-se a doença que mais mata no mundo; por ano, 1,5 milhão de pessoas morrem de tuberculose. No Brasil, ano passado, oito mil pessoas morreram por causa da tuberculose. E a gente está falando de pessoas que morrem jovens, tanto para HIV, /aids, quanto para tuberculose. A maioria morre na fase mais produtiva de sua vida — ou seja, adultos jovens, de 20 a 49 anos”.

Brasil 61: Qual a importância de eliminar essas doenças — ou reduzir a índices muito baixos?

Draurio Barreira: “É perfeitamente atingível a meta de eliminar — pelo menos — sete dessas doenças. E as outras quatro: aids, tuberculose, hepatites e hanseníase, atingir metas que passam a caracterizar a existência de uma doença que já não é mais um problema de saúde pública. Tem doenças raras — que não vamos eliminar — mas não serão mais problemas de saúde pública. Queremos tornar a aids, tuberculose, hepatites e hanseníase também como doenças raras. E é possível atingir essas metas e é possível eliminar todas essas doenças que já não existem nos países ricos”.

Brasil 61: Como costuma ser a transmissão dessas doenças?

Draurio Barreira: “Infelizmente, nessas 11 doenças, temos todas as formas possíveis de transmissão. Por isso, precisamos de um esforço tão grande com tantas áreas de diferentes setores. Pois sem saneamento básico, sem o fim de certos vetores, como o barbeiro — que traz a doença de Chagas —, sem a eliminação da transmissão respiratória — como a tuberculose —, ou sexual, como aids e as hepatites, a gente não consegue eliminar. O problema é multifacetado, exige uma resposta muito diferenciada e, por isso, a importância de juntar os 14 ministérios”.

Brasil 61: Além dos 14 ministérios e parceiros, quem são os atores fundamentais para o bom andamento do programa?

Draurio Barreira: “Não conseguiremos eliminar doenças sem a participação da sociedade civil, especialmente das pessoas afetadas, que são as mais comprometidas com o fim dessas doenças. Uma pessoa que vive com HIV pode te ajudar muito na adequação da sua resposta àquele problema — ninguém conhece mais o problema do que a pessoa acometida por ele. Então, não podemos pensar em eliminar uma doença sem contar com a participação das pessoas que sofrem direta ou indiretamente. As pessoas afetadas — não apenas as pessoas doentes — mas afetadas por essas doenças e os movimentos sociais de lutas contra essas doenças”.

Para atingir a meta, o governo conta com o apoio das organizações governamentais, mas também com o engajamento de toda a sociedade civil. Para isso, foram mapeadas 175 cidades onde pelo menos duas dessas doenças prevalecem e uma busca ativa envolvendo diversos órgãos municipais e estaduais está sendo feita para que as metas sejam atingidas. Para saber mais sobre o programa Brasil Saudável, acesse: www.gov.br/saude.
 

Copiar textoCopiar o texto
13/05/2024 00:01h

Na fase aguda, a doença de Chagas provoca febre, dores de cabeça e cansaço. Mas sem tratamento, pode evoluir para fase crônica e afetar órgãos como o coração, intestino e o esôfago. É uma das 11 doenças e 5 infecções socialmente determinadas a terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas pelo programa Brasil Saudável, do Governo Federal , com ações coordenadas de 14 ministérios.

Baixar áudio

Nos livros de Ciências, ela está presente e é muito falada durante a escola: doença de Chagas — causada por um protozoário (Trypanosoma Cruzi) e transmitida pela picada do barbeiro. Para muita gente, a história com a doença termina aí. Mas essa não é a realidade de muitos brasileiros. Oitenta por cento dos pacientes que recebem implante de marcapasso, em procedimentos realizados no Hospital de Base de Brasília, no Distrito Federal, deram entrada na unidade com problemas cardíacos causados pela doença de Chagas. É o que relata o cirurgião cardiovascular José Joaquim Vieira Junior. O especialista trabalha na unidade de referência regional na rede do SUS em cirurgias cardíacas, onde são realizados 600 implantes anuais desse dispositivo que controla os batimentos do coração em casos de arritmias. 

A estimativa do especialista ilustra a persistência desta doença secular, descoberta pelo médico sanitarista Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, em 1909, como problema de saúde pública, com baixa notificação. 

Informação de boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em abril deste ano, sobre notificações da doença de Chagas, reforça isso. O documento destaca: “apenas 7% das pessoas com doença de Chagas são diagnosticadas, e somente 1% recebe tratamento adequado no século XXI”. “[A Doença de Chagas] Segue ainda nos dias de hoje acometendo principalmente pessoas com alta vulnerabilidade social, podendo gerar intensos impactos na qualidade de vida, em especial a incapacidade, o medo e o estigma”, reforça o documento.

Segundo o levantamento, entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, 5,4 mil casos confirmados de doença de Chagas crônica, de 710 municípios, foram registrados no sistema e-SUS Notifica. Além disso, autoridades de saúde estimam que entre 1 milhão e 3 milhões de pessoas tenham a doença no país, representando perigo para moradores de áreas endêmicas, concentradas nas regiões Norte e Nordeste brasileiras. Consta ainda como uma das 11 doenças e 5 infecções socialmente determinadas a terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas, num esforço conjunto de 14 ministérios no programa Brasil Saudável, do Governo Federal. 

Se não identificada no início da infecção, a doença de Chagas pode se tornar crônica e atacar órgãos como esôfago, intestino e coração. Outra estimativa apontada pelo boletim do Ministério é a de que entre 30% e 50% dos pacientes desenvolverão a forma de cardiopatia crônica. Essa condição médica possui três formas de apresentação clínica: síndrome arrítmica, insuficiência cardíaca e complicações tromboembólicas sistêmicas e pulmonares. 

Doença de Chagas: ‘Mega coração’ e necessidade do marcapasso

“O parasita atinge a musculatura cardíaca e faz uma espécie de inflamação no músculo cardíaco, levando à degeneração das fibras, causando um aumento da área do coração. Como se você esticasse um elástico por muito tempo e ele ficasse frouxo. Conhecido como o 'mega coração'”, explica o cirurgião José Joaquim Vieira Junior.

“É o primeiro acometimento — o coração. Geralmente, é o mais trágico e o que as pessoas se preocupam mais. A maioria dos pacientes que colocam dispositivos cardíacos na nossa região é por doença de Chagas”, complementa o médico do DF.

Considerada multissistêmica, a doença de Chagas é caracterizada por uma fase aguda — que pode durar até algumas semanas ou meses — apresentando frequentemente sintomas leves ou pode ser até mesmo assintomática. Mas também existe a fase crônica. E é assim que o vigilante Carlos José Rosa, de 56 anos, morador do Gama, no Distrito Federal, convive com Chagas há mais de 40 anos. Ele contraiu a doença ainda menino, em Goiás. Aos 12 anos, teve o primeiro sintoma — um estreitamento no esôfago — que foi resolvido com cirurgia.

Anos mais tarde, quando Carlos tinha 38 anos, os primeiros problemas cardíacos começaram a surgir e mais uma cirurgia, dessa vez para a implantação de um marcapasso, foi feita. “O coração estava ruim, perdendo batimento cardíaco — batendo a 25 por minuto —, pressão a 6 por 4. Foi quando fiz a implantação do marcapasso que resolvi esse problema. O batimento normal passou para 60 e a pressão voltou ao normal”, relata. 

Mas Carlos sabe que a doença Chagas crônica pode afetar outros órgãos, como intestino, por exemplo. Segundo ele, já aprendeu a conviver com a doença e quando um novo órgão é afetado, ele vai “trocando as peças”.

Doença de Chagas: transplante de coração

O coração do aposentado e morador de Samambaia, no Distrito Federal, Adelino da Costa Lima, de 51 anos, também foi o órgão mais afetado pela doença de Chagas. Há 30 anos, ele foi infectado pela doença, em Bonfinópolis de Minas (MG), no noroeste mineiro. Em 2011, precisou implantar um marcapasso para ajustar os batimentos cardíacos. Mas em 2019, o órgão foi ficando mais fraco e só um transplante seria capaz de salvar a vida dele. Adelino recebeu o novo coração. Mas conta que conviver com a Chagas exige cuidados. 

“A partir do momento que a pessoa descobre e acusa a doença, todo ano é preciso fazer exames para descobrir se a doença está se desenvolvendo ou não”, explica Lima.

Doença de Chagas: alta incidência no estado do Pará 

No Brasil, o estado com maior incidência da doença é o Pará — responsável por 80% das ocorrências. As informações são da Secretaria de Estado de Saúde Pública do estado. Em 2022, foram 352 casos confirmados. 

Uma doença silenciosa, que pode impactar diversos órgãos do corpo e até mesmo levar à morte, como explica o coordenador estadual do Programa de Controle da Doença de Chagas no Pará, Eder Monteiro.

“Pode levar a complicações cardíacas graves como insuficiência cardíaca, congestiva, problemas gastrointestinais, podendo resultar em óbito em casos mais graves. No Pará, a prevalência varia de acordo com as regiões, mas estima-se que uma parcela significativa da população esteja em risco de infecção. Especialmente em áreas rurais ou em condições socioeconômicas desfavoráveis”, analisa Monteiro.

Doença de Chagas: eliminação da doença é um dos objetivos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a eliminação de 11 doenças socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas —, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a  essas doenças é prioridade (ver mapa abaixo). De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

MAPA MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS DO BRASIL SAUDÁVEL

Mapa

Descrição gerada automaticamente

“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero”, explica o coordenador-executivo do Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. O gestor completa: “E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Além dos municípios do Pará, a doença de Chagas aparece também em cidades do Nordeste (ver mapa abaixo), como os municípios pernambucanos de Carnaubeira da Penha e Correntes; e nos alagoanos Santana do Mundaú e Capela. No Amazonas, a doença está presente em municípios como Barcelos, Lábrea, Uarini, Ipixuna e na capital Manaus. No Acre, em Cruzeiro do Sul. Mas na capital do país, Brasília, a doença também aparece e precisa ser rastreada e tratada. 

Mapa

Descrição gerada automaticamente

MAPA

“As regiões Norte e Nordeste são consideradas áreas endêmicas para doença de Chagas devido às condições favoráveis ao ciclo de transmissão do parasita.  Condições precárias de moradia e a falta de saneamento básico contribuem para a proliferação dos insetos vetores e aumenta o risco de infecção pela doença de Chagas”, avalia Eder Monteiro.

Doença de Chagas: tipos de transmissão e como prevenir (Fonte: Ministério da Saúde)

A doença de Chagas é transmitida pelo barbeiro infectado — que ao picar uma pessoa sadia deposita fezes contaminadas no ferimento — permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea. É a chamada transmissão vetorial.

Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas e a aplicação de inseticidas residuais realizada por equipe técnica habilitada. Também preconiza o uso de repelentes, roupas de mangas longas, durante atividades noturnas em áreas de mata.

A doença também pode ser transmitida por via oral — por meio de alimentos contaminados pelas fezes do Trypanosoma cruzi — devido à falta de controle de higiene e de cuidados no momento do processamento. “A principal forma de prevenção é higienizar bem os alimentos. Pois, em geral, isso acontece quando o barbeiro é moído junto com o fruto ou outro alimento e a pessoa não vê. Como se trata de um inseto relativamente grande [para identificar], se o alimento for bem higienizado, eliminamos a grande probabilidade de a contaminação do alimento ocorrer”, explica o médico Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde

A terceira forma de transmissão é a vertical, quando a gestante infectada por Trypanosoma cruzi pode passar para o bebê durante a gestação ou no parto. De acordo com Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior, é importante que essa gestante seja acompanhada e a criança, ao nascer, também seja monitorada para que possa fazer exames. “Porque a criança pode ser tratada e curada, já que as chances de cura são muito altas se for tratada no início, assim que nascer”, completa o gestor. 

Doença de Chagas: principais sintomas e diagnóstico

Os principais sintomas — na fase aguda — são dor de cabeça, febre, cansaço, edema facial e dos membros inferiores, taquicardia, palpitação, dor no peito e falta de ar. Como os sintomas iniciais parecem com os de outras doenças, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima de casa para atendimento médico imediato e exames.

O diagnóstico precoce é fundamental nos casos de doença de Chagas, pois quanto mais tempo leva para o paciente iniciar o tratamento, mais danos o parasita causa ao organismo, principalmente no coração e sistema digestivo.

Um paciente com suspeita da doença precisa ser logo notificado e imediatamente encaminhado para exame e início do tratamento. Assim, o paciente com Chagas recebe medicamento específico por dois meses e permanece sob acompanhamento pelo período de cinco anos na atenção básica municipal e, quando necessário, por especialista - cardiologista, infectologista e gastroenterologista.

Doença de Chagas: rastreio e tratamento no SUS

“O rastreio e o tratamento da doença de Chagas, no Pará, são bem acessíveis. Qualquer pessoa que esteja em área endêmica, que apresente algum sintoma, como a febre persistente, procurando unidades básicas de saúde ou de pronto atendimento — e se tiver suspeita de Chagas na fase aguda —, imediatamente são feitos os exames parasitológicos e sorológicos. Caso dê positivo, logo em seguida, é feito tratamento com medicamento específico”, explica Eder Monteiro. 

Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento da doença de Chagas deve ser indicado por um médico, nas unidades de saúde do SUS, após a confirmação da doença. O remédio benznidazol é fornecido gratuitamente para pessoas com a doença na forma aguda. Para as pessoas na fase crônica, a indicação deste medicamento depende da forma clínica e deve ser avaliada caso a caso.

Para mais informações sobre a doença de Chagas e sobre o programa Brasil Saudável, acesse www.gov.br/saude.

Copiar textoCopiar o texto
07/05/2024 00:03h

Livre da doença desde 2006, Brasil vai pleitear reconhecimento internacional

Baixar áudio

Após o anúncio do fim da vacinação contra a febre aftosa no Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) vai agir em outras frentes para continuar com o Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa. 

Mais de 244 milhões de bovinos e bubalinos em cerca de 3,2 milhões de propriedades deixarão de ser vacinados como estratégia de proteção.

O diretor de Saúde Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária, Marcelo Mota, explica que foram criados três eixos principais para nortear as próximas ações. 

“O fortalecimento do serviço veterinário, no estabelecimento de uma estratégia de vacina para o caso de uma introdução de doença; um banco de vacina para estratégia focal e o fortalecimento das ações dos fundos de compensação para o caso de emergência. Porque no caso da ocorrência de uma eventual introdução desse vírus no futuro, nós tenhamos os recursos financeiros disponíveis para compensar os produtores agrícolas que vão ser prejudicados por essa ação”. 

Sem a vacina, a estruturação e o fortalecimento no serviço veterinário brasileiro de excelência, além da parceria com órgãos estaduais de defesa sanitária animal, são fundamentais para proteger os rebanhos.

O médico veterinário Lucas Edel ressalta como as recomendações do plano devem continuar sendo seguidas para que não haja o retorno do vírus. 

“As ações de vigilância, de coleta de amostras biológicas dos animais, de uma forma randomizada, aleatória, de cada estado, são uma forma de a gente monitorar se o vírus está vindo, está circulando ou não. Então, a circulação e o aumento da fiscalização das fronteiras, principais fronteiras mais problemáticas como com o Paraguai e Bolívia”, pontua.

Benefícios  

A erradicação com a suspensão da vacinação traz benefícios para o setor agropecuário e é vista com bons olhos pelo mercado internacional, já que significa que o país tem um bom serviço para identificar doenças e aumenta a confiança dos consumidores e dos parceiros comerciais na qualidade dos produtos, como observa o advogado especialista em direito animal Luciano De Paoli. 

“Essa carne não é só consumida no Brasil, ela também é exportada, então ficando livre da doença, faz com que o mercado interno e externo acabe tendo grande lucratividade. E Brasil ficando livre de zoonoses, dá um patamar superior em igualdade com países desenvolvidos”, comenta.

De acordo com o Mapa, o pedido de reconhecimento do país vai ser realizado em agosto e o resultado, se aprovado, será apresentado em maio de 2025. 

O reconhecimento internacional do status sanitário de livre de febre aftosa sem vacinação ao país é feito pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). No Brasil, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso são reconhecidas como zonas livres da doença pela organização. 

Para obter esse reconhecimento, a vacinação contra a febre aftosa deve ser suspensa, com proibição de ingresso de animais vacinados nos estados por 12 meses, no mínimo. 

O fim da imunização significa também uma redução de custo direta, de mais de R$ 500 milhões com a aplicação. Os lotes de vacina restantes no país podem ser doados, caso haja países interessados. 

Como identificar a doença

A febre aftosa é uma doença infecciosa aguda e considerada como uma zoonose, ou seja, caso o vírus entre em contato com os seres humanos, é transmitido de animais para pessoas. Não é letal, mas é de difícil controle por causa da alta capacidade de transmissibilidade.

“Ela é transmitida basicamente por gotículas de aerossol, onde o vírus está presente. Na maioria das vezes ela causa lesões orais, tem esse nome febre aftosa, porque causam aftas, e geralmente são aftas na boca, na mucosa de uma forma geral e também no casco. Ali também podem surgir lesões semelhantes a uma afta e também nos tetos dos animais. Esses são os principais sinais clínicos da febre aftosa”, explica Lucas Edel. 

Desde 2006 não são registrados casos da doença em território nacional.

Copiar textoCopiar o texto
06/05/2024 03:00h

Piauí, Acre e Maranhão são as unidades da federação com as taxas mais elevadas

Baixar áudio

Já estamos quase alcançando o prazo para o Brasil cumprir o compromisso de universalização do saneamento básico, mas — ainda assim — existem brasileiros que desconhecem a realidade dos serviços. Cerca de 1,2 milhão de pessoas vive sem banheiro ou sequer um vaso sanitário em casa. São 367 mil domicílios em condições precárias de moradia. O número corresponde a 0,6% da população nessas condições. Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Na opinião do diretor executivo da ABCON SINDCON (associação das operadoras privadas de saneamento), Percy Soares Neto, a pesquisa só mostra que o saneamento básico ainda é um problema estrutural que não será resolvido no curto prazo. Para ele, o marco legal do saneamento é a oportunidade de oferecer infraestrutura para que as regiões que carecem de serviços melhores consigam ter condições adequadas de moradia 

“O emprego dessas soluções alternativas é recebido pelo marco do saneamento, então o marco do saneamento reconhece nessas situações que as soluções alternativas devem ser implementadas e devem ser consideradas aí como soluções”, avalia. 

De acordo com a pesquisa, Piauí (5,0%), Acre (3,8%) e Maranhão (3,8%) foram as unidades da federação com as taxas mais elevadas. Em 24 municípios brasileiros, a proporção da população residindo em domicílios com banheiro de uso exclusivo era inferior a 50%. Por outro lado, em 415 municípios todos os domicílios particulares permanentes ocupados recenseados possuíam banheiro de uso exclusivo.

Ainda conforme o levantamento, em relação às instalações sanitárias mais simples, em 1.529 municípios todos os domicílios recenseados possuíam ao menos sanitário ou buraco para dejetos; enquanto em 169 municípios mais de 10% da população residia em casas sem banheiro, sanitário ou buraco.

Mais atenção do poder público, uma necessidade

A advogada e presidente da Comissão de Saneamento da OAB Nacional, Ariana García, considera o processo de regionalização o ponto principal do Novo Marco Legal do Saneamento. Ela diz que ainda existem regiões que precisam de mais atenção do poder público.

“A regionalização tem outros aspectos muito importantes que precisam ser considerados com muito cuidado, que é o compartilhamento da titularidade por se tratar de uma prestação regionalizada, o respeito ao município, que é sobretudo o respeito aos usuários que serão atendidos, que às vezes se perdem nessa discussão para a supervalorização de quem vai prestar esse serviço na regionalização”, observa.  

Os dados do Censo 2022 mostram que o perfil dos habitantes com essa privação indica que as pessoas autodeclaradas pardas prevaleceram no total da população em privação de banheiro, respondendo por 73,7% do total em 2022. Já a população autodeclarada branca respondeu por 13,8% enquanto a autodeclarada preta, representam 10,6%.
 

Copiar textoCopiar o texto